Encaminhe o Título Original ‘Trading Buckets’
Como trader discricionário, é útil classificar suas operações em buckets.
Sistemático e discricionário não são estados binários nem mutuamente exclusivos.
Nos extremos, existe o sistema de negociação totalmente automatizado, sempre ativo e que gerencia todas as etapas do processo.
No outro extremo, há a negociação puramente baseada em intuição, sem qualquer regra ou setup definido.
Tecnicamente, qualquer grau de discricionariedade — como desligar seu sistema automatizado ou rebalanceá-lo manualmente — já seria considerado ‘discricionário’, tornando a definição ampla demais para ser útil.
Na prática, minha definição de trader discricionário provavelmente se aplica à maioria dos leitores:
É importante destacar que ‘discricionário’ não é sinônimo de ‘preguiçoso’.
“Pois é, mano, nenhum setup é igual ao outro, então não adianta testar nada, tudo é diferente mesmo.”
Os melhores traders discricionários normalmente mantêm estatísticas detalhadas dos mercados em que atuam, playbooks de setups, filtros de regime de mercado, diários de trading para otimizar performance, entre outros recursos.
Sempre há, pelo menos, uma ordem baseada em regras dentro da qual aplicam sua discricionariedade e, com experiência, as regras se tornam mais flexíveis, dando mais espaço para a discricionariedade no processo.
Mas isso é conquistado, não presumido.
De toda forma, na minha opinião e experiência, a maioria dos setups discricionários +EV se encaixa em três buckets distintos, para os quais adotei nomes arbitrários:
As três variáveis que definem cada bucket são:
(1 e 2 podem ser combinados para estimar o EV, mas assim fica mais fácil de entender).
Vamos analisar cada bucket separadamente.
Incremental
Baixo R:R, alta probabilidade, frequência média.
Essas são as operações que mantêm o fluxo de caixa e mantêm você alinhado ao mercado.
Não são operações chamativas, não geram destaque nas redes sociais, mas são o arroz com feijão do trader — retornos que, com edge, podem se acumular de forma significativa ao longo do tempo.
Exemplos: trades de microestrutura/fluxo de mercado, reversão à média intradiária, padrões estatísticos (como efeitos de horário do dia/fim de semana, efeitos pós-notícia), negociação em range durante períodos de baixa volatilidade, entre outros.
Os principais riscos desse bucket são a perda do edge e a mudança de regime.
Ambos são custos inerentes à atividade. Trades intradiários vão e vêm, e estar do lado errado de uma mudança de regime sempre custa caro (vide o caso Gaddafi).
Esse bucket é produtivo porque tende a gerar lucro e aciona com frequência suficiente para suavizar sua curva de PnL, além de fornecer insights valiosos sobre o mercado e o regime vigente.
Convexo
Alto R:R, probabilidade média, baixa frequência.
A maioria das operações em time frames elevados, baseadas em expansão de volatilidade ou mudança de regime, se enquadra nesse bucket.
Por definição, são setups pouco frequentes, mas quando ocorrem, capturar uma fatia do grande movimento é o que gera o retorno expressivo.
Exemplos: rompimentos em time frames altos, rompimentos falhados, continuação de tendência em time frames elevados, operações com grandes catalisadores/notícias, extremos de funding e open interest, rompimentos após compressão de volatilidade, entre outros.
Os principais riscos desse bucket são os falsos inícios, longos períodos de espera entre setups e a complexidade no gerenciamento das operações.
Novamente, faz parte do custo operacional.
Normalmente, nesse bucket, você pode precisar entrar mais de uma vez no mesmo setup e aceitar pequenos prejuízos antes de acertar (se acertar). Além disso, é mais provável cometer erros no gerenciamento, pois são operações mais voláteis e difíceis de controlar — justamente por isso a recompensa é maior.
Esse bucket costuma ser o principal responsável pelo PnL acumulado ao longo da carreira dos traders de cripto. Dimensionar corretamente e capturar grandes tendências, rompimentos e reversões é o que mais contribui para romper a curva de patrimônio frente ao fee drift.
As operações convexas compensam o fee drift, churn e variância do bucket Incremental.
Popularmente, esse é o bucket dos ‘bangers’.
Especialista
Alto R:R, alta probabilidade, baixa frequência.
Esse é o bucket raro, que aparece poucas vezes, como na recente cascata de liquidações em perps, desvalorização de stablecoins, notícias de tarifas (quando relevantes), grandes trades com catalisadores e expansão de volatilidade.
Exemplos: transformar uma entrada em time frame baixo em swing trade de time frame alto, grandes desalinhamentos entre spot e derivativos, grandes arbitragens entre exchanges, executar ordens em preços extremamente descontados, prover liquidez em livros de ofertas vazios, entre outros.
Esse bucket exige uma das duas situações:
A primeira situação é difícil por ser extremamente rara. Quando ocorre, a maioria está tentando evitar chamadas de margem e gerenciar posições existentes enquanto a infraestrutura da exchange está instável.
A segunda é difícil porque a ação de preço em time frames altos é volátil e ruidosa nos time frames baixos. Isso exige precisão extrema na entrada, invalidação e a capacidade de sustentar a ideia de time frame baixo durante a expansão do time frame alto, sempre gerenciando bem a operação.
Os principais riscos desse bucket são: necessidade de habilidade elevada, frequência extremamente baixa, alta chance de você estar apenas tentando sobreviver em vez de capitalizar quando a oportunidade surge, risco de execução (slippage em livro raso, risco de liquidação), entre outros.
Esses trades são difíceis, mas capturar um deles pode transformar sua carreira como trader.
O que torna essas operações tão atraentes é o mesmo fator que as torna perigosas.
É muito estratégico manter um ‘fundo de crise’ em stablecoins, reservado exclusivamente para essas oportunidades.
Conclusão
Revise seu diário ou playbook e tente classificar suas operações nesses buckets.
Se ainda não possui um diário ou playbook, agora já sabe por onde começar.
Outro insight importante (pela omissão) é que existem muitos buckets que não valem seu tempo — por exemplo, operar por tédio se encaixa em baixo R:R, baixa probabilidade e frequência infinita.
Isso não é um uso produtivo do seu tempo e capital.
Se você está em fase de desenvolvimento como trader, dedique a maior parte do seu tempo ao bucket Incremental para coletar dados, construir e refinar seu sistema, e assim adquirir capital e experiência para operar nos outros buckets.
Não é necessário escolher um único bucket e permanecer nele para sempre.
O mais valioso é construir um playbook que contemple todos os três e, principalmente, estabeleça expectativas realistas para R:R, probabilidade, frequência, risco e como esses setups se apresentam.
Por exemplo, operar setups Convexos, mas gerenciá-los como Incrementais é um erro. Da mesma forma, operar setups Convexos e dimensioná-los como Incrementais também é um equívoco (essa é, pessoalmente, minha maior fraqueza como trader).
Portanto, saiba exatamente o que está assumindo e ajuste sua abordagem conforme necessário.
Não detalhei valores específicos para R:R, probabilidade e frequência porque isso varia muito e depende das condições de mercado. Em bull markets aquecidos, pode haver um setup Convexo por semana; já em mercados adversos, você comemora quando surge um setup Incremental.
Há muito mais a ser dito, mas por ora encerro por aqui.
Abraços.





